segunda-feira, 7 de março de 2011

CHICO XAVIER HUMANIZA O MITO



O letreiro apresentado na abertura da cinebiografia de Chico Xavier dá uma pista sobre o que estamos prestes a assistir quando afirma que a vida de um homem não cabe em apenas um filme.

A do biografado com certeza não caberia, foram mais de 90 anos dedicados ao próximo, com um amor e uma doçura pouquíssimas vezes vistas em um ser humano, que as circunstâncias e a obra extensa, de 400 livros psicografados, acharam de mistificar e praticamente santificar; mas que o cinema aqui, opta por humanizar.

O filme de Daniel Filho, baseado no livro "As Muitas Vidas de Chico Xavier" de Marcel Souto Maior, adaptado excepcionalmente por Marcos Bernstein, pinta um retrato sobretudo humano do mito, usando como linha condutora uma apresentação dele ao vivo, no Programa Pinga-Fogo, uma espécie de ancestral do Roda-Viva, que no início da década de 70 criou polêmica ao tentar desmascarar o médium em rede nacional e não conseguir, mesmo sabatinando-o por mais de 3 horas seguidas, estourando completamente sua duração habitual de apenas 1 hora.

A produção então leva o espectador até a infância difícil de Chico (Matheus Rocha), a morte da mãe (Letícia Sabatella), as torturas da madrinha (Giulia Gam) e as vozes que já não o deixavam em paz, "em seu canto" como ele mesmo deseja em sua conversa com o simpático Padre Scarzelo (Pedro Paulo Rangel).

O garoto cresce e o ator Angelo Antonio assume o personagem e ajuda a mostrar algumas de suas características mais fascinantes, a batalha incansável pelo próximo, quando literalmente trabalha até os olhos sangrarem e mais tarde a expulsão da casa de sua família pela confusão que seu trabalho de filantropia causava; em uma das cenas mais emocionantes do filme em que contracena com a atriz Carla Daniel.

E o primeiro encontro de fato com Emmanuel (André Dias), o guia espiritual que o acompanhará por toda a vida.

Mas das três fases retratadas da vida de Chico, a melhor e mais impressionante é a terceira; já na década de 70, quando é interpretado brilhantemente por Nelson Xavier, como um homem que fisicamente começa a aparentar a fragilidade física que caracterizou as últimas décadas de sua vida.

Além dos problemas de saúde aparecem mais umas tantas facetas humanas, o medo de morrer, responsável por um dos momentos mais divertidos do filme, a vaidade, o bom humor, enfim, qualidades e defeitos que costumamos negar com facilidade aos mitos.

E para não deixar de fora alguns fatos importantes que comprovam a relevância de Chico na própria história do país, Daniel Filho optou por incorporar às tantas histórias reais da vida do médium, uma ficção que sintetiza algumas das que ficaram mais notórias: as polêmicas absolvições de réus baseadas em mensagens das vítimas psicografadas por Chico.

Orlando (Tony Ramos), um ateu ferrenho, combate a crença da esposa Glória (Cristiane Torloni) no médium, até que lê com seus próprios olhos uma mensagem do filho morto em um acidente com arma de fogo e a leva ao tribunal ajudando a inocentar o acusado pela morte de seu filho.

Uma chance para conhecer melhor um personagem que foi acima de tudo um exemplo de vida que deveria ser seguido com uma maior frequência, por todos os seres humanos, independente de religião e origem.

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